Parte expressiva das culturas dos povos está gravada em seu patrimônio documental, e esta, independente da nação, fica armazenada em bibliotecas, museus, arquivos e nos mais diversos locais de custódia espalhados pelo mundo. Essa informação documental é uma das formas privilegiadas para se perpetuar memórias coletivas em todas as partes. E mesmo com toda essa carga de importância, ainda hoje, existe uma grande perda de documentação histórica, seja pela má conservação, por fatores políticos, por dissociação acidental e até mesmo por guerras e conflitos sociais. Inúmeros fatores colocam “em cheque” a memória de um povo e, consequentemente, a memória do mundo.
A preocupação com a conscientização e a busca por soluções para reverter essa situação levou a UNESCO a criar o que se chamou Programa Memória do Mundo. O programa tem por objetivo atuar junto a governos, organizações e fundações internacionais pondo em prática planos de ações que visam desenvolver projetos pautados nas principais estratégias fundamentais do Programa: a identificação de patrimônio documental, conscientização, preservação, acesso, estruturas, status e relações.
Após a implementação do Programa, percebe-se que há a necessidade de aproximar seus ideais de cada país, com isso, criam-se os Comitês Nacionais, Regionais e Locais, responsáveis pela a atuação mais intensiva em cada região e em suas entidades detentoras de documentações públicas ou particulares que necessitam de maiores cuidados e divulgação. O primeiro passo é identificar as coleções documentais e sua importância para a humanidade. Identificados, esses acervos documentais são registrados pelo Comitê Consultivo Internacional e endossado pela diretora-geral da UNESCO. Segundo o site da UNESCO, o Registro da Memória do Mundo é o aspecto de maior visibilidade pública do Programa Memória do Mundo.
Pensando nisso e com todas essas informações, o Arquivo Público do Estado de São Paulo, reduto de grande acervo documental, fundos e coleções valiosíssimos, emprenha-se em conquistar, pouco a pouco, o Registro Memória do Mundo para o seu acervo. Até o momento o Arquivo Público possui cinco conjuntos documentais com o título de Patrimônio da Humanidade, são eles: Arquivo da Secretaria de Governo da Capitania de São Paulo (1611-1852); O jornal abolicionista “A Redempção” (1887-1899); O arquivo Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (1964-1985); Livros de Registro/ Matrícula dos Imigrantes (1882-1962) e Arquivo da Comissão Teotônio Vilela (1983-2016).

O tema desta edição é justamente o mesmo em que a Comissão atuou durante sua existência. A CTV foi uma entidade, não governamental na luta pelos Direitos Humanos. Nasceu em 1983 e tinha como membros uma relação de notáveis intelectuais, políticos e jornalistas. Contribuiu para a redemocratização do país e pela inserção dos direitos humanos no âmbito estatal. Na década de 1990, auge de sua militância, ampliou seus objetivos e fortaleceu uma rede internacional de organizações influentes nesta causa.
É possível obter maiores detalhes históricos desta famigerada e importantíssima Comissão através de sua documentação, disponível ao público, nos salões de pesquisa do APESP. São cerca de 171 caixas que acondicionam aproximadamente 15.000 documentos textuais, dentre eles: documentos administrativos, relatórios de visitas às casas de detenção, formulários de denúncias, textos e artigos acadêmicos, folhetos, recortes de jornais etc; 108 documentos sonoros e 52 documentos audiovisuais e tridimensionais. Esse montante e toda a carga histórica que essa documentação carrega é, além de memória de nosso país, material de pesquisa acadêmica para pesquisadores que têm como objeto de pesquisa a temática dos direitos humanos. Toda essa documentação foi doada ao APESP em 2013, por iniciativa da própria Comissão, anteriormente, os documentos estavam sob custódia do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo.
Por estas razões o Fundo da Comissão Teotônio Vilela alcançou o reconhecimento com o Registro Memória do Mundo. A UNESCO, mais uma vez levou em consideração a característica ímpar de uma coleção pertencente ao Arquivo Público do Estado de São Paulo, e com isso, traz luz a nossa história, à instituição e principalmente ao Fundo da Comissão Teotônio Vilela. Fonte: http:// www.unesco.org/ new/ pt/ brasilia/ communication-and-information/ access-to-knowledge/ documentary-heritage/ #
Imagem/CDAP-APESP

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