Crônicas de futebol
Considerado um dos maiores cronistas esportivos do Brasil, autor de frases como “A pátria de chuteiras” e torcedor apaixonado do Fluminense, Nelson Rodrigues sentia-se à vontade para escrever sobre futebol e o fez em diversos veículos. Começou no Jornal dos Sports, na década de 1930, periódico que pertencia ao seu irmão, Mário Filho. Depois, continuou a fazer suas crônicas nas páginas do Ultima Hora (1951), de Samuel Wainer, da Manchete Esportiva (1955), de Adolpho Bloch, e d’O Globo (1962), de Roberto Marinho.[1]RODRIGUES, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol. Seleção e notas: Ruy Castro. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. p. 11.
Mesmo que não conseguisse enxergar muito bem o gramado do estádio, pedia aos colegas que contassem os detalhes do que acontecia em campo e criava textos mirabolantes sobre uma partida. Sobre seu problema de visão, Armando Nogueira comenta:
“Nelson Rodrigues não enxergava direito. De longe, então, era incapaz de distinguir Fulano de Beltrano. No Maracanã, que deixa o torcedor a léguas do campo, não conseguia ver o jogo sozinho. Tinha que ter alguém soprando no ouvido dele os lances que a vista curta não alcançava.”[2]RODRIGUES, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol. Seleção e notas: Ruy Castro. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. Comentário de Armando Nogueira na orelha do livro.
Uma pequena amostra da força narrativa de Nelson está nas duas crônicas feitas para o jornal Ultima Hora durante a Copa do Mundo de 1958, na qual o Brasil foi vitorioso pela primeira vez.
O time brasileiro foi para a Copa da Suécia, em 1958, carregando o “complexo de vira-latas” pela derrota nos dois mundiais anteriores, sendo o de 1950 em pleno estádio do Maracanã.
Contrariamente à opinião da imprensa e dos torcedores, Nelson acreditava no potencial do time, ou, como se dizia na época, do “escrete” brasileiro de 1958, conforme mostra a crônica “A tremenda vitória”, que relata os 3x0 do Brasil diante da Áustria no início do campeonato.
Ele tinha fé naquela seleção formada por Didi, Garrincha, Gilmar e pelo estreante Pelé, quando ninguém mais esperava que alguma vitória fosse possível. E, como ele previa, o Brasil foi campeão da Copa do Mundo de 1958.
Em edição extra do jornal Ultima Hora do dia 30 de junho, a crônica de Nelson Rodrigues intitulada “Glória ao escrete de machos” solta a seguinte pérola sobre a goleada do Brasil diante do adversário: “Vamos dizer a verdade total: - o Brasil pôs a Suécia numa banheira de Cleópatra e a lavou de alto a baixo”.
Nessa mesma página da crônica, à direita, tem uma foto-legenda sobre a visita das esposas dos jogadores Castilho e Didi à redação do Ultima Hora, em um papo com Samuel Wainer e Nelson Rodrigues.
Acesse o acervo digitalizado do jornal Ultima Hora.
Conheça a cobertura das copas do mundo de 1954 a 1970 pelo jornal Ultima Hora, com destaque para textos de Nelson Rodrigues, Paulo Francis, Nelson Mota, entre outros, em: Arquivo em imagens – Série Ultima Hora – Futebol. Publicado pelo Arquivo do Estado e pela Imprensa Oficial. 2. ed. 2001.
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