Intérpretes do Acervo

Fernando Razzo Galuppo

Razão e paixão nas arenas dos arquivos

“Ainda há muito o que quero (e preciso) pesquisar no APESP. Sem sombras de dúvidas, afirmo que muito do que sou eu devo ao conteúdo estudado e adquirido no APESP, ao longo de quase duas décadas”.

O APESP como lugar de encontros e de produção do conhecimento

Fernando Galuppo é querido veterano pesquisador no APESP. Profundo conhecedor do esporte brasileiro, nas mais variadas modalidades, com simplicidade e presença agradável, Galuppo é um grande parceiro do Arquivo. Durante os últimos 20 anos, ele flagrou as muitas transformações ocorridas na instituição, na perspectiva de usuário, desde quando era estudante de Comunicação Social interessado em registrar a memória esportiva ítalo-brasileira em São Paulo. Fui influenciado a frequentar com assiduidade, a partir de alguns amigos muito queridos que fiz na consulta à hemeroteca. Tornamo-nos uma família. E o APESP era nosso ponto de encontro. Entre eles, o Sr. Adauri, Sr. Henrique Campi Netto, Sr. Roberto Sapponari, Shinkiti Mikari, Thais Matarazzo, Paulo Unzelte, entre tantas outras pessoas queridas. Todos com suas pesquisas nas mais diversas áreas. Foi nesse ambiente nas tardes no APESP em que uníamos o útil ao agradável. A busca do conhecimento e o encontro fraterno com esses amigos queridos.

Dos italianos, pelas origens; do esporte, pela paixão ao futebol

Galuppo é habitual frequentador dos periódicos na nossa biblioteca e hemeroteca: Minhas pesquisas têm como foco a área esportiva. Em especial a presença ítalo-brasileira nos esportes na cidade de São Paulo, suas instituições e personagens. Instituições como o Palestra Itália (atual Sociedade Esportiva Palmeiras) e Clube Atlético Juventus são um dos maiores aglutinadores dessa temática, devido as suas tradições e origens, bem como de um mapeamento dos principais atletas e instituições italianas que atuaram na cidade de São Paulo. Com uma disciplina quase diária, folheei centenas de jornais, de 1914 até os dias atuais.

Nas profundezas dos vazios dos registros documentais

Mas, a vida de pesquisador não é fácil. Ele é guiado por um desejo de reconstruir memórias que não oferecem senão registros fragmentários e um tanto caóticos. Fernando que o diga:

A dificuldade na busca de documentação é a ausência de fontes em determinados períodos. Por exemplo, uma das fontes principais da minha pesquisa trata-se do Jornal A Gazeta Esportiva. Mas o APESP não tem essa coleção em sua totalidade. Essas lacunas acabam por dificultar a pesquisa e nos faz buscar outras alternativas para cumprir essa ausência. O suporte proporcionado por esses documentos é fundamental para a construção factual da história. São matérias primas indispensáveis para responder às nossas demandas e dar luz à nossa compreensão.

Perguntado sobre um exemplo de maior desafio de suas pesquisas, Galuppo nos brinda com esse formidável exemplo: uma das pesquisas mais importantes que realizei no APESP foi a biografia do atleta Ettore Marcelino Domingues. Um multiesportista da década 10 a 30 que gozava de grande prestígio e popularidade, mas, que com o passar dos tempos, acabou se tornando um personagem obscuro. Nos arquivos, consegui dimensionar um atleta ainda maior do que imaginava. Além de grande jogador de futebol e decisivo na conquista do primeiro título oficial da história da seleção brasileira no Campeonato Sul-Americano de 1919, pude encontrar a sua atuação como atleta de bola ao cesto (basquete) e a sua carreira de árbitro de futebol, após o encerramento de suas atividades como jogador. Algo que se tinha parcos registros ou quase nada a respeito. Como ele, consegui mergulhar a fundo em tantas histórias fascinantes que jamais poderia imaginar sem a ajuda da documentação existente no APESP.

Os arquivos como elementos vitais na transformação de um país

Foto: arquivo pessoal
Fernando Galuppo

Galuppo é usuário e profundo conhecedor de arquivos, na condição de pesquisador. Por isso, sabe compreender perfeitamente o valor das políticas de preservação de instituições de memória: Classifico a importância dos arquivos como algo vital na transformação de um país. Quanto mais acesso ao conhecimento, mais evoluímos e ampliamos os nossos horizontes em qualquer área de atuação. Certamente, os países mais desenvolvidos são aqueles que melhor trabalham a sua difusão de conhecimento em informações que possam beneficiar populações e entidades no seu crescimento.

Dicas para um pesquisador: metodologia, paciência e serenidade

Vontade, disciplina e perseverança, essa é dica que Galuppo oferece àqueles que pretendem iniciar suas pesquisas no APESP. De fato, o trabalho de pesquisa, em sua maioria, é algo solitário e, nas palavras desse pesquisador, um desafio constante de provação e superação de limites interiores consigo mesmo. Por vezes, há dias improdutivos em que nada rende. Faz parte. Isso é um estímulo para que muitos desistam. Na minha caminhada, vi muitos desistirem ao se depararem com as primeiras dificuldades e obstáculos. O importante é pensar um dia por vez. Dar um passo por vez. Com metodologia, paciência e serenidade. As recompensas são maiores que os dissabores. Vale a pena pesquisar, principalmente em um arquivo como o APESP, conclui.

Produtos e resultados de suas pesquisas nos arquivos

  • “Palmeiras Campeão do Mundo 1951”, Editora Maquinaria, 2011;
  • “Alma Palestrina” Editora Leitura, dezembro de 2009;
  • “Meu Time do Coração”, Editora Leitura, dezembro de 2009;
  • “Morre Líder, Nasce Campeão!” BB Editora, e lançado em 2012;
  • “Glórias de um Moleque Travesso”, BB Editora, editado em 2013;
  • “Parque dos Sonhos”, produzido pela In House Editora, em 2016.

Colaborador de inúmeras publicações esportivas, entre as quais se destacam: A História das Camisas dos 12 Maiores Times do Brasil, Os Dez Mais do Palmeiras, Palmeiras – O alviverde imponente, Almanaque do Palmeiras, Palmeiras Minha Eterna Paixão, Verdão – O Campeão do Século em Quadrinhos, Palmeiras x Corinthians 1945 – O Jogo Vermelho e Palestra Itália – Quando Gli Italiani Insegnava il Calcio in Brasile, 20 Jogos Eternos do Palmeiras, Album Comemorativo do Centenário de Figurinhas do Palmeiras (Panini Brasi), Palmeiras – Minha Paixão é você, entre outros.
Colaborou na produção dos seguintes filmes que retratam a história do Palmeiras:

  • Um Craque Chamado Divino (2006);
  • Primeiro Tempo (2011); além do programa de rádio “Verde que te quero Verde”, produzido pela Rádio Cultura. Entre tantos outros projetos nas áreas do esporte e comunicação;
  • Participei como colaborador, fonte e pesquisador dos cadernos especiais, revistas, vídeos e áudios que retrataram o Centenário da Sociedade Esportiva Palmeiras, no ano de 2014.
  • APESP, conclui.