Imigrantes: novos “braços para a lavoura”

   Um conjunto de fatores ajuda a explicar um pouco do momento o qual o Brasil atravessava, entre o final do século XIX e início do século XX: a chegada dos imigrantes europeus seguida dos asiáticos; a transição política do Império para a República e a abolição da escravidão. Internacionalmente, países como a Itália, Portugal e Espanha passavam por crises econômicas, e o sonho de inúmeros trabalhadores de saírem da miséria e galgarem uma ascensão social coincidiu com o interesse do governo brasileiro de subsidiar a imigração para suprir uma carência esclarecida no slogan adotado pelos políticos e a elite paulista diante da necessidade de novos “braços para a lavoura” de café.

   Associado a estes acontecimentos políticos, econômicos e sociais, também cresceram estudos sobre o “branqueamento” da população brasileira para que, assim, o país pudesse se destacar entre as nações civilizadas do mundo. Os estudos sobre eugenia, branqueamento e afins, foram adotados por parte da elite econômica e política do país e tinham como meta o total branqueamento da população brasileira em no máximo quatro gerações. Esse resultado seria alcançado com a vinda de mais brancos, ou seja, dos imigrantes:

(...) O mestiço original poderia ser melhorado caso
se introduzisse mais brancos à mistura original.
A seleção de imigrantes obedeceu principalmente à
demanda do branqueamento. (...) O imigrante, além
de vir preencher uma demanda de braços para o
trabalho, teria o papel de contribuír para o
branqueamento da população, ao submegir na
cultura brasileira por meio da assimilação. ¹

   A Lei Áurea tem um papel importante neste contexto, certamente. Mas a lei de proibição do tráfico negreiro, Eusébio de Queiroz, de 4 de setembro de 1850, configura-se como uma das mais significativas para entendermos as mudanças que estavam acontecendo no país com relação ao sistema de trabalho utilizado nas lavouras de café e cana-de-açúcar. Muitos estudos apontam para questão se foi a abolição que possibilitou a imigração em massa ou se foi a imigração que possibilitou a abolição. No caminho para a compreensão da relação trabalho escravo/trabalho imigrante, comecemos com a análise de uma das áreas pioneiras no emprego da mão-de-obra imigrante no Brasil: a colônia do senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro.

   A fazenda do senador Vergueiro, que mais tarde ficou conhecida como “Colônia Senador Vergueiro”, foi uma das primeiras no Brasil a utilizar-se da mão-de-obra imigrante e outro regime de trabalho que não o servil. No ano de 1841, preocupado com a possível falta de mão-de-obra escrava, o senador trouxe um grupo de imigrantes portugueses, para trabalhar em suas terras. Para este primeiro grupo, ele mesmo financiou as despesas com a passagem e alimentação, as quais foram sendo restituídas pelos imigrantes com sua parte na produção de café. Quando a família aqui chegava, ela recebia um lote de terra para o cultivo do café e outro para plantar e criar animais para sua própria subsistência. Os imigrantes teriam que pagar aluguel da casa e dos pastos que utilizavam.

   O peso das dívidas fez com que muitos no ano seguinte saíssem ou fugissem das lavouras. Este sistema de cultivo do café, no qual o imigrante e o fazendeiro eram parceiros e dividiam a produção, não minimizava as dívidas que eram adquiridas pelos recém-chegados. Esta forma de trabalho conhecida como parceria, foi utilizada com os primeiros contingentes de imigrante em São Paulo, porém não teve continuidade. Foi necessária a criação de um sistema novo que pudesse integrar investimentos privados e públicos, para que o emprego da mão-de-obra estrangeira não onerasse tanto empregadores e empregados, de forma que a imigração se tornasse um negócio atraente para ambos.

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¹OLIVEIRA, Lucia Lippi. “O olhar estrangeiro: de viajante a imigrante”. In: O Brasil dos imigrantes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. p.10.


A Imigração no Estado de São Paulo (1880-1920)





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