Experiências e confrontos – fragmentos da sociabilidade na cidade

   Diversas comunidades imigrantes inventaram estratégias para preservar as suas tradições e para promover a solidariedade mútua em eventuais necessidades, pois não era possível contar totalmente com o apoio do poder público. Assim, surgiram as associações que tinham a finalidade de auxiliar os imigrantes nas áreas de saúde, educação, caridade e previdência e também desenvolviam atividades voltadas para o lazer e à sociabilidade de seus associados. Podemos citar as Sociedades de Mútuo Socorro fundadas por italianos; a Federação Espanhola situada à Rua do Gasômetro; a Associação Hispano-Americana no bairro da Mooca. Essas associações eram frágeis economicamente, e por isso efêmeras, porém algumas existem até os dias de hoje.

   Os grupos imigrantes forjaram sua vida associativa, desenvolveram associações de ajuda mútua, recreativas, religiosas e cívicas, clubes esportivos, publicaram jornais em seus respectivos idiomas, fundaram sindicatos, instituíram atividades de lazer. Enfim, produziram formas de sociabilidade que muitas vezes escandalizaram a elite paulistana e se tornaram alvos de intensa repressão. Os modos de vida dos imigrantes estavam distantes dos “padrões civilizados” defendidos pelas elites que tentavam reproduzir o cotidiano das burguesias européias.

[...] Nos anos 20, apareceram outros grupos de samba
como o Flor da Mocidade na Barra Funda e o Vai-Vai no
Bexiga, bairro que se formara com grande contingente
de imigrantes italianos, vindos da Calábria e com
ex-escravos negros, fugidos das fazendas ou expulsos
do centro urbano. (RAGO, 2004, p. 412).

   Isso não significa que os grupos tinham permanecido isolados em suas comunidades e associações. As pessoas de diferentes etnias cruzavam-se nos bairros, no comércio, nas fábricas e em outros locais numa convivência permeada por tensões. Amostra disso são as discordâncias dentro do movimento operário: trabalhadores italianos frequentemente acusavam os trabalhadores portugueses de fura-greves, chamando-os de krumiros. Também houve conflitos entre imigrantes da mesma nacionalidade motivados por disparidades regionais ou ideológicas.


A Imigração no Estado de São Paulo (1880-1920)

 

 
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