A política nacional - crise na República
O furacão de 1922
Os antecedentes de 1924
Por que a cidade de São Paulo?
O caminho para a ação
A cidade e a revolução
Mudança de planos
E depois? A ressaca da revolução
O fim do Movimento Tenentista?

A cidade e a revolução

“São Paulo ficou nobre, com todas as suas virtudes bombardeadas”¹

 

   Diante do início da ocupação, a população paulistana assistiu assustada ao desenrolar dos fatos. A cidade parou. Pessoas não saíam de casa sem nem mesmo saberem o porquê daqueles embates. Os jornais, principais fontes de informação da época, pararam de circular. O próprio comando revolucionário estava dividido: havia aqueles que queriam continuar a luta, liderados por João Cabanas e Miguel Costa, e aqueles que queriam desistir e bater em retirada, liderados por Isidoro Dias Lopes.

 

   Para a surpresa dos revolucionários, no dia 9 de julho, as forças legalistas que defendiam o presidente do estado Carlos de Campos e a permanência de Arthur Bernardes no poder deixaram a cidade. Mas as dificuldades de abastecimento e inúmeros outros problemas não previstos pelo grupo militar teriam um peso decisivo nas ações que seriam tomadas adiante.

 

   A população da cidade vivia um clima de insegurança semelhante a um verdadeiro estado de guerra, pois sofria com a falta de gêneros alimentícios e com os constantes avisos de bombardeios. Os habitantes que tiveram oportunidade fugiram da cidade e refugiaram-se em Campinas e em outras localidades do interior paulista. Porém, a expectativa de uma parte da população menos favorecida por uma mudança em sua condição de vida fez com que os militares revoltosos fossem vistos por ela como uma nova fonte de esperanças.

 

   Após o presidente do estado deixar a capital, iniciou-se uma leva de saques a armazéns, indústrias e mercados por parte da população atingida pela escassez de alimentos, gerando prejuízos a comerciantes e grandes produtores. Os detentores do poder político tinham deixado a cidade, mas restavam aqueles que detinham o poder econômico, nesse caso representados pela Associação Comercial – órgão representativo da classe produtora de São Paulo – alarmados diante do caos que se instaurou na cidade.

 

   A Associação Comercial era presidida por José Carlos de Macedo Soares, intermediador do diálogo entre os revolucionários e o governo municipal. Foi na Associação Comercial que importantes decisões foram tomadas nas inúmeras reuniões organizadas entre seus representantes, os militares e o poder municipal. Ali foi decidido que caberia à Prefeitura cuidar das necessidades básicas da população durante o conflito.

 

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¹ ANDRADE, Oswald de. Memórias Sentimentais de João Miramar. Rio de Janeiro: Civilização   Brasileira, 1971. apud MARTINS, 1976, p. 140.