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Nº 07 2018
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Um recorte da cidade

Irene Barbosa de Moura [*]

Fotos/ Irene Barbosa de Moura

Figura 1: Vista parcial da Avenida São João e da Rua Libero Badaró

Figura 1: Vista parcial da Avenida São João e da Rua Libero Badaró

A janela

Em um dia chuvoso, ao pararmos para observar o tempo fechado, característico do clima paulistano, deparamo-nos com uma vista singular.

Da janela, nosso olhar, um pouco mais atento vislumbrou, nesse recorte da cidade, os sujeitos que constroem e desconstroem diariamente os espaços. Removendo camadas de memórias, inferimos que nesses prédios à nossa frente, existem traços das múltiplas experiências das pessoas que produziram essa paisagem.

Entre os edifícios, nesse dia de céu nublado, os raios do sol insistiram até abrir caminho, lançando seu brilho sobre esses fragmentos/testemunhos de outras décadas e também dos dias atuais.

Pequenas janelas fechadas: o que escondem/guardam/protegem do olhar do observador? Nos instigou a pensar quem estava por detrás de cada uma delas e com que visão/expectativa em relação à cidade. Observamos esse cenário por algum tempo e não vimos uma única pessoa, mesmo diante de tantas venezianas, vidraças e terraços com múltiplas atividades: financeiras, comerciais, habitacionais, culturais, espaços onde se constroem trajetórias.

Nesse ínterim, tremularam as bandeiras de São Paulo e do Brasil que vimos em mastros nos altos dos prédios. Novamente, voaram pequenos pássaros, às vezes, planando entre os prédios diante de nós.

Do céu nublado, de repente, começaram a cair gotas de chuva.

Vimos por entre os respingos na janela, o quarteirão par da Avenida São João, antiga ladeira São João, com seu declive acentuado, acesso de quem vinha da Rua Libero Badaró, outrora Rua São Luís, para a área semirrural do Vale do Anhangabaú. O que atraiu nosso olhar para esse ponto foi um bloco de edificações coloridas que contrasta com os arranha céus ao redor.

Entre esses prédios, vimos um mundo novo e um antigo e num flagrante contraste entre passado e presente, construções com um quê de abandono.

Pássaros planaram novamente.

Ouvimos o som dos sinos do Mosteiro de São Bento. Outro pássaro cruzou o céu como que vigiando, conferindo, passeando.

Os edifícios

Por uma ilusão de ótica, a Praça das Artes, que é um Complexo Cultural/Educacional, parece estar em frente às edificações da Avenida São João ( figura 1). No entanto, esse bloco bege com pequenas janelas envidraçadas encontra-se em um quarteirão do outro lado do Vale do Anhangabaú.

Essa Praça foi erguida a partir da desapropriação de diversos lotes, alguns com construções degradadas, mas ainda assim, foi um processo que gerou demandas judiciais contrárias à apropriação desse espaço pelo poder público.

Do ângulo no qual nos encontramos, não vimos a Rua Libero Badaró, homenagem ao jornalista liberal que lá residiu e morreu pela ação de opositores. Ainda, segundo Simões Júnior (2003), entre o final do século XIX e início do XX, essa via era estreita e com vários cortiços, muitos dos quais serviam ao meretrício. Tais memórias parecem ter conferido à rua, um certo ar sombrio, já que a altura dos pré-dios a sua volta deixa pouco espaço para a luz do sol iluminá-la.

Daqui, tampouco vemos a Avenida São João, apesar dessa via também cortar o quadro que observamos.

Esse bloco de cinco prédios, de cinco a seis andares, diferentes na arquitetura, nas dimensões e nos usos, é singular na conjugação de estilos que remetem a diferentes épocas (figura 2). Apesar dos tons agora desbotados, o bege do Baraúna, o branco vibrante do número 14, o tom terroso do Bertolli, o amarelado do antigo número 12 e o bege do Dhélomme, constituem uma paleta de cores contrastantes, na qual o branco se destaca. As fachadas estão razoavelmente conservadas, apesar de pichadas, e são passíveis de restauração, no entanto, ao nos aproximarmos desses edifícios, um olhar de relance para o interior de três das edificações nos revelou alterações significativas que destoam dos traços das fachadas.

Fotos/ Irene Barbosa de Moura

Conjunto de edifícios do lado par da Avenida São João

Figura 2: Conjunto de edifícios do lado par da Avenida São João

O Baraúna, construído em 1923 é o edifício à esquerda, inicia o conjunto e possui duas fachadas que se estendem pelas Avenidas Prestes Maia e São João. O Casa Dhélomme, de 1920, com conformação semelhante ao primeiro, fecha o bloco ocupando parte da São João e da Rua Líbero Badaró e, atual-mente, abriga a Secretaria de Assistência Social da Prefeitura Municipal de São Paulo. Entre eles fica o antigo número 14, que foi ocupado por famílias de baixa renda, integrantes de movimentos por moradia, tornando-se uma espécie de favela vertical, aparentando condições de salubridade duvidosas. Na sequência, está o Bertolli ou Piergioelle Bertolli (sic) de número 108 que tem função comercial, seguido pelo antigo número 12 A, concluído em 1936, de acordo com Santos (2017).

Fotos/ Irene Barbosa de Moura

Vista parcial da Praça das Arte

Figura 3: Vista parcial da Praça das Artes e dos edifícios Martinelli e Banespa

Vistos por esse ângulo, do sexto andar do antigo Hotel Esplanada, atual Secretaria de Agricultura do Estado, não temos a exata dimensão da distância que nos separa desses edifícios. Tudo se apresenta a nós como um bloco coeso e a Praça das Artes, por exemplo, parece fundir-se com o edifício Martinelli como se este fizesse parte do “ moderno” edifício, ambos coroados ainda, pelo topo do edifício Banespa (figura 3).

O edifício Martinelli, construído na década de 1920, distinguiu-se nessa paisagem por estar localizado no prolongamento da ladeira da Avenida São João, para além da Rua Líbero Badaró, o que o tornou visível, apesar da proximidade de outras construções mais altas. Outros fatores que atraíram nossa atenção para esse edifício foram a coloração em três tonalidades de rosa que o destacou das construções em tons de cinza, branco e bege, seu estilo arquitetônico singular e as dimensões que, na época da construção, o tornaram único (figura 4). Mas, caminhando ao seu redor, percebemos o efeito nocivo do tempo e da poluição no seu revestimento.

Fotos/ Irene Barbosa de Moura

Figura 4: Avenida São João vista do Vale do Anhangabaú

Figura 4: Avenida São João vista do Vale do Anhangabaú

À esquerda do Martinelli está o edifício São João, um bloco de linhas retas da década de 1950 e que, por suas dimensões, suplantou as construções ao redor, mas, visto de onde nos encontramos, nos lembra uma grande caixa (figura 1). Hoje, ele abriga a administração do Banco do Brasil e superou, em extensão, o Baraúna e o Casa Dhélomme, pois ocupa parte das Ruas São Bento, Libero Badaró e Avenida São João.

Os sujeitos

A princípio, nosso olhar se fixou nas construções à nossa frente, mas estas nos remeteram à intenção por trás da configuração dessa paisagem. Ao pensarmos nesse espaço há pouco mais de cem anos, encontramos um ambiente semi rural, com atividades agrícolas e agropecuárias, mas logo a área tornou-se alvo do projeto de ampliação do centro e formação da “Cidade Nova”, como citou Porto (1992). Nesse processo, foi construído o Teatro Municipal o que acirrou a especulação imobiliária, afastando os moradores de menor poder aquisitivo e colocando fim às atividades de caráter rural, naquela área.

Na época, a expansão da cidade para o Anhangabaú congregou projetos de modernidade e de consolidação da imagem de uma capital cosmopolita atribuída a São Paulo, qualidade que hoje, é representada pela região da Avenida Paulista.

Hoje, observando essa área e percorrendo a pé esses espaços vimos diferentes realidades e, de certa forma, o retorno dos sujeitos excluídos em outros momentos.

As construções que outrora foram palacetes e prédios de alto padrão, símbolos da riqueza, muitos construídos sobre os antigos cortiços, abrigam novamente, prostitutas, migrantes e imigrantes, ambulantes, entre outros.

Diante dessa realidade, a subutilização dos espaços, em vista do abandono verificado no “centro velho” de São Paulo, necessita ser debatida para que se possa conviver coerentemente, usufruindo da cidade e de seus equipamentos.

Como usuário e frequentadores desses locais, fica uma questão: como transitar pela cidade e, ao mesmo tempo, ignorar esses sujeitos e suas demandas?

Notas

  • [*] Executivo Público na Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, licenciada em História pela Universidade Cidade de São Paulo - UNICID, possui pós- graduação em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.

Referências bibliográficas

PORTO, Antônio Rodrigues. História Urbanística da cidade de São Paulo (1554 a 1988). Carthago & Forte, 1992, p. 35.

SANTOS, Regina Helena Vieira. ARQUITETURA DA DÉCADA DE 1920: um quarteirão da Avenida São João, São Paulo. Universidade de São Paulo – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2017 , 1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017.

SIMÕES JÚNIOR, José Geraldo. Anhangabaú: História e urbanismo. Senac São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2003, p. 86.

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