Meio Ambiente
MEIO AMBIENTE:
DA CAPOEIRA AO ESPIGÃO
O Estado de São Paulo tinha, até o final do século XIX, quase toda sua extensão coberta por Mata Atlântica. Esse bioma1 tem como característica sua imensa biodiversidade, com uma mata fechada e densa e, por isso, com muita sombra e umidade. A vegetação é muito diversificada, com árvores de grande e médio porte, e a fauna possui diversas espécies de mamíferos, anfíbios, aves, insetos, peixes e répteis. É um território também recortado por inúmeras bacias hidrográficas que nos trazem uma riqueza hídrica invejável, principalmente se percebermos o quanto a água potável corre o risco de se tornar um bem escasso. A não ser pela presença de grupos indígenas, até então a região havia permanecido praticamente intocada. Vários fatores interligados contribuíram para uma rápida colonização da região. Se seguirmos os mapas publicados entre 1880 e 1930, perceberemos as transformações ocorridas. Uma das principais causas apontadas foi a grande demanda da Europa e América do Norte pelo café brasileiro, que criou uma crescente necessidade de novas terras para a agricultura cafeeira, além de outros produtos como o algodão, a cana-de-açúcar e a pecuária. Contribuíram ainda a construção e implantação das ferrovias2 , que serviam tanto para levar a mão de obra quanto para trazer os produtos até o porto de Santos. Assim, todas essas atividades tiveram igual consequência: o desmatamento. As condições naturais foram modificadas pela ação do homem, ou seja, humanizadas. Se houve grande crescimento econômico, ao mesmo tempo, vários problemas co-
meçaram a surgir, como a perda de fertilidade e erosão da terra, e o desaparecimento de diversos cursos d'água por fenômenos como o assoreamento - sem a vegetação para segurá-la, a terra e outros sedimentos se depositam dentro dos rios e córregos, fazendo com que eles se tornem cada vez mais rasos, até quase desaparecerem. Percebemos, portanto, que o desmatamento causou profundas alterações em todo o ecossistema da região. Se, no início, as terras foram extensamente ocupadas pela agricultura e pecuária, a partir dos anos 1930 perceberemos grande aumento no número de cidades. Essa expansão foi ainda maior a partir da década de 1950. Quanto mais cidades, maior a necessidade de infraestrutura: água, saneamento básico, energia elétrica. Esse foi o momento da construção das grandes barragens nos rios Tietê, Paranapanema, Paraná e Grande. Onde havia rios (regiões de fluvial), passamos a ver lagos (regiões lacustres) formados pelo represamento de águas em reservatórios que, se somarmos os seus perímetros, chegam a ter o comprimento de duas vezes o litoral brasileiro. Assim, novamente, ao mesmo tempo em que melhoramos questões de geração de energia, novos desafios se apresentam para se conservar o solo e os recursos hídricos. Temos hoje, portanto, uma herança que nos torna um dos estados mais ricos do país, mas também nos faz encarar uma situação complexa em que é necessário buscar novas formas de equilíbrio com o meio em que vivemos.

1Cada um dos grandes meios ambientes do planeta: oceano, floresta, deserto, pastagens etc. (Dicionário Aurélio)
2Curioso? Veja detalhes na exposição "Ferrovias Paulistas": http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_ferrovias/