Empreendedores
EMPREENDEDORES:
DAS RELAÇÕES LOCAIS ÀS GLOBAIS
O típico fazendeiro que deslocou suas atividades para o oeste havia construído patrimônio com plantações de açúcar e café em áreas mais antigas e procurava ansiosamente por novas terras para expandir seus empreendimentos. No final do século XIX, o café estimulava não só mudanças no panorama natural e rural, mas também os negócios urbanos, enriquecendo os proprietários e fazendo florescer uma classe média ligada às atividades burocráticas e comerciais, de compra, venda, beneficiamento, financiamento e exportação do café. A concentração de atividades econômicas em algumas cidades atraiu um enorme contingente humano, que modificou a paisagem e as formas de relacionamento social. Esse proprietário costumava ter uma participação de peso na vida social, econômica e política dos municípios. É nas cidades que uma parte dos excedentes de capitais dos grandes donos de terra - latifundiários - seria aplicada no comércio e serviços, na especulação imobiliária e na implantação da infraestrutura pública. Essa elite considerava o transporte ferroviário extremamente importante. Muitos criaram ramais ferroviários próprios que chegavam até suas propriedades e que, posteriormente, foram vendidos às companhias ou ao governo. Quanto mais a oeste, mais barata a terra a ser ocupada - em alguns casos, simplesmente tomava-se "posse" das áreas. Contava-se como certa a implantação das ferrovias e a consequente valorização da
terra. Porém, esses empreendedores pioneiros não ficaram a salvo das sucessivas crises do café - localizadas desde o final do século XIX, culminando na crise de 1929 - sendo que vários deles perderam suas propriedades. Esse cenário propiciou a queda do preço das terras e muitos dos antigos imigrantes puderam comprar pequenas propriedades e se estabelecer como sitiantes ou pequenos fazendeiros. Em outros casos, as terras foram tomadas por credores, muitos deles ligados às indústrias nascentes. Com a crise da bolsa de Nova York, em 1929, o café deixa de ser o cultivo principal e o Estado de São Paulo passa a diversificar os plantios. A partir da década de 1930, algumas cidades do Oeste Paulista receberam grandes empresas industriais de capital externo e nacional, entre outras, voltadas ao beneficiamento de produtos agrícolas. As relações de trabalho tornam-se mais impessoais e corporativas. A partir dessa época e de forma crescente após a II Guerra Mundial, o foco de desenvolvimento econômico está na indústria e na urbanização. O lugar de viver deixa de ser o rural e passa a ser o urbano. Com a importância assumida pelas exportações de produtos agropecuários e agroindustriais, e com o envolvimento de capitais de diferentes origens nesses empreendimentos, a propriedade agrícola e sua produção tornam-se parte das atividades de um grupo que as controla e gerencia, de acordo com suas necessidades globais e não locais.