O Arquivo Público do Estado de São Paulo anuncia que a candidatura
intitulada “Presença Negra no Arquivo: Luiz Gama, articulador da liberdade
(1830-1882)” foi reconhecida no prestigiado programa Memória do Mundo da UNESCO para América Latina e o Caribe.
Esta candidatura destaca a
notável contribuição de Luiz Gama em um período crucial da história brasileira.
Entre os documentos apresentados, estão 232 textos de 12 periódicos do século
XIX que abordam a atuação de Luiz Gama, incluindo o livro “Matrículas de
Africanos Emancipados” de 1864, que contém manuscritos assinados por Gama. O
conjunto inicial foi identificado pelo pesquisador do Instituto Max Planck,
Bruno Rodrigues de Lima, fundador da Sociedade Luiz Gama e organizador das
obras completas do abolicionista, premiado pelo Jabuti Acadêmico de 2024, com o
volume “Direito 1870 - 1875: Luiz Gama” (Ed.Hedra).
“A recente decisão da UNESCO
é uma justiça histórica, reconhecendo a grandiosidade da obra de Luiz Gama,
maior jurista do mundo moderno. Esta conquista é fruto do esforço da sociedade
civil e do Estado de São Paulo, cuja missão é resgatar e recuperar esse legado
custodiado pelo Arquivo Público”, comenta Bruno Lima.
Nesta candidatura,
localizamos a presença de Gama nos seguintes jornais: “A República”; “Correio
Paulistano”, "Democracia", “Diário de São Paulo”; “Gazeta do Povo”;
“Gazeta da Tarde”; “Gazeta de São Paulo”; “Ó Ypiranga”; “Paulistano Radical”; “Tipografia
de Santos”; “A Província de São Paulo” e “O Polichinello” (periódico em que
Luiz Gama foi editor).
O programa Memória do Mundo,
criado pela UNESCO em 1992, visa promover a conservação e o acesso ao
patrimônio documental da humanidade, enfrentando desafios como tempo, falta de
recursos, guerras e comércio ilegal de documentos. O Comitê Regional para América
Latina e o Caribe (MoWLAC), criado em 2000, tem como objetivo preservar o
patrimônio documental da região e até agora reconheceu 260 inscrições
custodiadas em arquivos, bibliotecas ou museus da América Latina e Caribe.
O acervo de Luiz Gama é o
sexto conjunto documental custodiado pelo APESP a ser considerado patrimônio
pela UNESCO. Já foram reconhecidos o Fundo Comissão Teotônio Vilela de Direitos
Humanos (1983-2016), Arquivo da Secretaria de Governo da Capitania de São Paulo
(1611-1852), o jornal abolicionista “A Redempção” (1887-1899), o arquivo do
Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo - DEOPS
(1964-1985) e os Livros de Registro de Matrícula dos Imigrantes, do Memorial do
Imigrante do Estado de São Paulo (1882-1973).
“Desta forma, verifica-se que
o Arquivo reúne uma das maiores coleções de escritos jornalísticos produzidos
pelo abolicionista Luiz Gama, refletindo uma parte significativa de seu
pensamento que influenciou consideravelmente a história brasileira. Com esta
candidatura no Programa Memória do Mundo pretendemos ampliar a divulgação da
vida desta personalidade e possibilitar a inclusão de novos documentos sobre o
advogado, que atualmente estão dispersos. Este reconhecimento deve-se à sua
existência enquanto sujeito e à sua presença difusa nos documentos, refletindo
seu pensamento e influência na história brasileira. Este reconhecimento não só ressalta a importância do
abolicionista Luiz Gama, mas também marca um passo significativo do recém
instituído Programa Presença Negra no Arquivo”, explica o coordenador do
APESP, Thiago Lima Nicodemo, sobre a relevância dessa conquista.