Na luta para proteger os documentos sob guarda da instituição, os funcionários da CPIA (Coordenadoria de Preservação e Ingresso de Acervos) do Arquivo Público do Estado de São Paulo enfrentam vários desafios. Mas o pior deles são os invasores que não podem ser barrados na portaria. São exércitos de traças, brocas, formigas, cupins, besouros, piolhos-de-livros e roedores que se instalam no prédio. Esses animais estão famintos; e para eles, o patrimônio histórico guardado nos depósitos significa, antes de mais nada, comida.
Esse diversificado corpo inimigo foi tema da palestra “Principais pragas em acervos históricos” proferida por Francisco Zorzenon, do Instituto Biológico, e realizada na última quinta-feira, 14 de agosto, às 10h, no auditório do Apesp. Pesquisador científico, entomologista (especialista em insetos) e diretor da Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas do Instituto Biológico, Zorzenon já assessorou o Arquivo em várias ocasiões, inclusive cuidando do controle climático dos depósitos, essencial para reduzir a umidade ao mínimo. E, como ele explica, este é um dos principais atrativos para as pragas.
“Costumamos dizer que as pragas precisam de quatro As para se instalar num acervo: Água (umidade), Alimento (ou seja, documentos), Acesso (proximidade do seu ninho, além de rachaduras, vãos etc., na estrutura do prédio) e Abrigo (o prédio do Apesp)”, disse Zorzenon. Um lugar quente e úmido, pouco frequentado e mal higienizado, é o paraíso dos insetos e roedores. Pior ainda, entretanto, é a presença de alimentos e bebidas no entorno. No momento essa é uma das principais preocupações dos responsáveis.
Cada um faz sua parte
Riscos pontuais, como incêndios ou roubos, podem ser enfrentados com estratégias como Brigada de Incêndio e câmaras de segurança. Mas a luta contra as pragas é diária, não acaba nunca e precisa da colaboração de todos. Esse é um dos motivos pelos quais o trabalho do Grupo de Gerenciamento de Risco vem sendo reforçado nos últimos anos, segundo Milton Vedoato Filho, coordenador do CPIA. A palestra de Zorzenon é o início de uma campanha estratégica para conscientizar as pessoas sobre a questão dos alimentos dentro do prédio – algo que simplesmente não pode acontecer.
“Esse é um fator que podemos controlar”, diz Milton. “Basta as pessoas se conscientizarem de que não dá para trazer alimentos aqui dentro. Até porque o conteúdo desses depósitos não é um monte de papel velho; é a história do nosso Estado”.
Ao mesmo tempo, o Centro de Preservação e Ingresso do Acervo aposta em uma rotina de limpeza rígida: a retirada diária do lixo e a dedetização a cada três meses fazem parte disso. O treinamento dos responsáveis pela limpeza também deve acontecer em breve, dentro da campanha que se desenrola agora. Baratas, cupins, brocas e outros “usuários” do Arquivo nunca serão totalmente eliminados, mas é importante garantir que não causem prejuízos ao acervo.