Esta exposição revela que desde os tempos mais remotos da formação do Brasil existem esforços voltados para garantir a tramitação, guarda, descrição e proteção de documentos. A preocupação com a constituição de um arquivo no governo do Morgado de Mateus explica, em parte, como foi possível preservar informações autênticas que atravessaram séculos e chegaram a nós, em pleno século XXI.
Cartas, ofícios, requerimentos, consultas, cartas régias, resoluções, alvarás, avisos e provisões constituem exemplos de tipos documentais produzidos no período colonial. É fundamental, para o historiador, entender o contexto de produção, as instituições produtoras e as informações registradas nos documentos, para que possa reconstituir as ações e decisões que lhes deram origem. E é importante lembrar que esses documentos, que nasceram para servir à governança, só se convertem em "históricos" pelas mãos do historiador.
Não por acaso a origem etimológica da palavra Arquivo deriva de atividades relacionadas a funções de governo. Seu nome vem do latim archivum, que veio do grego ta arkheia, “registros públicos”, de arkheion, “prefeitura, governo municipal’, de arkhé, “governo”. Também a palavra Arca, derivada de arcere, “guardar, manter sob vigilância”, mantém relação com arquivo, pois representa o cuidado dedicado à guarda dos documentos.
Portanto, assim como no tempo do Morgado, os arquivos continuam desempenhando funções estratégicas e indispensáveis na sociedade contemporânea. Os arquivos são patrimônio único e insubstituível, transmitido de uma geração a outra. Sendo assim, eles requerem profissionais qualificados, com formação apropriada e contínua, que servem a sociedade apoiando a produção, avaliação e conservação dos documentos, tornando-os disponíveis para a garantia de direitos e para a produção de conhecimento.
Das inúmeras ações típicas de um Arquivo que tem sob sua custódia documentos como os aqui expostos, duas delas são postas em destaque: o erudito ofício da paleografia e da decifração dos documentos e o artesanal trabalho de conservação e restauro.
“Sendo um universo arqueológico, o fundo de arquivo é, com raras
exceções, um desafio que acena com o caótico que lhe imprimíram o
tempo e o desuso em que caíram seus elementos. Assim, no sentido do
desafio e da descoberta, o trabalho de arquivo, especialmente quando
se trata de acervos históricos, é invariavelmente fascinante.”
Heloisa Liberalli Belloto