O Arquivo Público do Estado possui um rico acervo de documentos da Capitania de São Paulo. Muitos deles foram produzidos num momento central da sua história, entre 1765 e 1775, durante o governo de Dom Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, o Morgado de Mateus.
A Capitania de São Paulo originou-se dos quinhões de terra concedidos pelo rei aos donatários Martim Afonso de Sousa e a seu irmão, Pero Lopes de Sousa, que desembarcaram em São Vicente em 1532. Em 1709, a Coroa portuguesa comprou as terras de seus herdeiros, criando uma nova unidade administrativa governada a partir de Vila Rica. Chamava-se, na época, Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, e abrigava um território correspondente aos atuais estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina. Onze anos depois, em 1720, o rei desmembrou essas terras e constituiu a Capitania de São Paulo, nomeando um capitão-general para residir na cidade de São Paulo, elevada à condição de sede.
São Paulo perdeu parte de seu território, à medida que Minas Gerais e, mais tarde, Mato Grosso e Goiás se convertiam em capitanias autônomas. Com a sua importância econômica reduzida, pois já não possuía “homens nem comércio” que justificassem a presença de um capitão-general, a Capitania de São Paulo acabou por ser extinta em 1748. Dezessete anos depois, quando o avanço espanhol representou risco às regiões mineiras, o governo português restabeleceu a autonomia de São Paulo, conferindo-lhe um importante papel militar e geopolítico na defesa da América portuguesa. Foi então nomeado capitão-general da restauração Dom Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, o Morgado de Mateus. Seu governo, pleno de realizações, foi marcado por polêmicas, mostrando-se ousado e inovador, em termos de desenvolvimento econômico e social das terras paulistas.
Nesse período, os documentos escritos se consolidaram como ferramentas de governo, mediando relações sociais e impondo práticas duradouras. Mais ainda, estabeleceram um diálogo regrado com a sociedade, abrindo as portas da graça real, mediante a aceitação de uma série de regras e protocolos. Tais regras e protocolos fizeram com que os documentos refletissem, na forma e no conteúdo, o mundo hierarquizado que os criou, proporcionando um espelho do Antigo Regime. É este mundo que se faz presente nos documentos mostrados nessa exposição.