Como seria o rosto de Tebas? Não há registros em desenho ou
pintura deste mestre de obras que viveu no século XVIII e foi um dos
construtores de São Paulo. O desafio foi lançado ao artista visual Denis
Moreira da Costa, que procurou pistas em pesquisas no acervo do APESP e em conversas
com a equipe para recriar a fisionomia de Tebas da forma mais fiel possível. Assim
surgiu a obra Tebas Mwana pwo, em quadro que mostra a transição do Tebas quando
jovem, por volta dos 25 anos, de máscara por volta de 40 anos e aos 60 anos.
Esta obra pode ser vista na Exposição Orbital Presença Negra: Tebas, inaugurada
esta segunda-feira, abrindo a Semana Tebas no Arquivo Público do Estado de São
Paulo.
Para Denis o maior desafio foi recriar um rosto sem
referências, nem mesmo um desenho do mestre de obras. Como o artista pesquisa
máscaras africanas há muitos anos, foi nelas que encontrou inspiração. “Minha
pesquisa entrelaça as máscaras africanas e suas funções com personalidades
históricas negras brasileiras”, conta. Dessa forma, Denis Moreira chegou à máscara
da região entre Angola, República Democrática do Congo e Zaire, que seria a de
origem de Tebas.
A partir daí, Denis criou 150 retratos durante dois meses para
chegar ao rosto de Tebas em dois momentos: jovem e maduro, com a máscara
fazendo a transição dessas fases. O artista também reconstruiu o tipo de
vestimenta desses diferentes períodos e com cédulas.
Denis Moreira deu uma entrevista ao coordenador do APESP,
Thiago Nicodemo, sobre todo esse trabalho para criar o rosto de Tebas. Assista
em nossas redes sociais (@arquivoestadosp).
Durante a Semana Tebas aconteceram diversas atividades, como a mostras de cinema para estudantes da rede pública. Na
terça e na quarta-feira realizou-se a mostra “Cinema e relações raciais: o
racismo no Brasil” foi ofertada aos alunos de ensino médio da EMEFM Vereador
Antônio Sampaio. A atividade é uma das ações do projeto de pós-doutorado do
professor titular da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Jairo Carvalho de
Nascimento.
Foram exibidos na terça-feira os curtas ‘A Boneca e o
Silêncio’, Mãe não Chora”, e o documentário “Quem te Penteia. Também foi
realizada uma palestra com as diretoras dos filmes Carol Rodrigues e Naná
Prudêncio, que contaram como foi o processo de criação das obras que falam
sobre preconceito, raça, classe social e estética negra.
Na sequência, a mesa-redonda ‘Tebas: vida, obra e trajetória de pesquisa’
discutiu a figura de Tebas na história com o pesquisador Carlos Gutierrez
Cerqueira, o jornalista Wagner Ribeiro e o historiador Luís Gustavo Reis.
Na quarta e quinta-feira realizou-se a oficina educativa
“Bordando a São Paulo do tempo de Tebas”. Mesmo quem nunca fez um ponto
correntinha aprendeu a bordar e encher de cores as imagens do papel em preto e
branco.
Na quinta-feira à tarde foi apresentada a primeira edição do “Jogo do Arquivo:
Tebas”, com cartões de atividades e blocos de construção. Lembra o jogo do
banco imobiliário, mas com as obras de Tebas por São Paulo. Todas as
atividades foram realizadas pela equipe do Centro de Difusão e Apoio à Pesquisa
do APESP.
Quem foi Tebas – Joaquim Pinto de Oliveira, um dos inúmeros escravizados construtores da cidade de São Paulo, esteve por 30 anos trabalhando em Santos com o mestre pedreiro português Bento de Oliveira Lima, com quem teria aprendido o ofício da cantaria - arte de lavrar e talhar pedras para construir e usar nas ornamentações de fachadas e detalhes internos da arquitetura. Os negócios de Bento Lima trouxeram Tebas para a Vila de São Paulo, onde sua incrível habilidade técnica e artística foi reconhecida e onde se tornou referência no ofício. Sua habilidade o tornou uma figura importante na construção da cidade. Tebas é um dos personagens da exposição “Presença Negra no Arquivo”.