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Sobre Exposições em Arquivos – Concepção Curatorial

Os desafios das exposições virtuais

Não nos iludamos: a exposição virtual jamais nos proporcionará o ambiente e a riqueza do espaço expositivo físico em nossa casa. Nada substitui a visita in loco a um museu ou a outro espaço cultural. A visita a um museu é programada e esperada. O trajeto do deslocamento, a chegada aos arredores, o cruzamento com pessoas, o reconhecer um amigo, ou uma personalidade, o conforto no coração pelo tempo dedicado à atividade ímpar, a conversa com os monitores, o ambiente minuciosamente montado para nos envolver no tema, o próprio espaço do equipamento cultural, o suspiro diante da obra, os cheiros e sabores, o burburinho da saída, o usufruto do vinho, ou café com pão de queijo regado a comentários críticos da experiência. Enfim, o ambiente virtual pode até ousar almejar, mas jamais conseguirá substituir a fruição sensitiva presencial.

Por outro lado, a obra virtual oferece a comodidade e a possibilidade do usufruto do conteúdo de forma mais densa e esparsada no tempo, em viagem pelos links e hiperlinks, sob a provável magia proporcionada pelas luzes de leds.


O avesso do Twitter

Não acreditamos e nem apostamos na falácia do senso comum de que "imagens dizem mais que mil palavras". As imagens, de fato, são sedutoras, impactantes e necessárias, mas a cultura profunda na sociedade contemporânea ainda se dá pela leitura. E muita leitura. E esta tem que ser estimulada, jamais suprimida. Muito mais para quem tem a oferecer documentos "burocráticos", que é a força e matéria-prima dos arquivos. Esta exposição é, portanto, uma espécie de anti Twitter, em termos pedagógicos. Esperamos que você a divulgue nas suas redes sociais, inclusive pelo seu Twitter.


Exposições de arquivos

Exposições são momentos excepcionais para a difusão do acervo e dos conhecimentos arquivísticos, porém demandam muitos recursos intelectuais e materiais. Poucas são as instituições arquivísticas com possibilidade de realizações nessa modalidade. No Brasil, mais difícil ainda é inserir arquivos no circuito cultural das municipalidades. Por este motivo, é importantíssimo que se aproveite ao máximo quando da oportunidade.

A questão que coloco é: como montar uma exposição colada à missão institucional e que só o Arquivo poderia fazê-lo? Muitas instituições arquivísticas seguem um padrão expositivo que considero pouco aderente ao perfil peculiar dos arquivos: optam por seduzir o expectador pelo poder da narrativa memorialística e das construções históricas, deixando de expor as riquezas e sutilezas do conhecimento arquivístico tão ocultos aos olhares leigos.

Desta forma, os Arquivo são usados apenas como suportes ao ensino e difusão da história e da memória, descolando-os das raízes de sua missão e natureza. Não se aposta no poder sedutor que os conhecimentos arquivísticos podem despertar nos usuários dessas exposições e fazê-los refletir sobre essa atividade que está inscrita nos primórdios das relações sociais humanas e que fazem parte do cotidiano de todas as pessoas e instituições.

Ainda que toda e qualquer exposição arquivística tenha a história como método, a abordagem dessa história tem que revelar as peculiaridades típicas de quem a observa sob a ótica dos arquivos. Este é um detalhe que faz toda a diferença. Nunca se pode perder a oportunidade de se revelar as sutilezas do conhecimento dos conceitos e métodos próprios da arquivística em uma exposição, sob o risco de se empreender mais uma bela aula de história em uma prática de difusão de arquivos de baixa intensidade. Perde o usuário, enriquecido pela abordagem histórica, mas que continua ignorando a grandeza cultural e, ao mesmo tempo, instrumental/pragmática dos arquivos em sua dimensão de ciência aplicada e não como mera “auxiliar da história”.


Potencial desta experiência virtual

Esta exposição pode ser entendida como uma experiência "autoral" e "matricial" do Apesp. Trata-se de exposição extensa e densa de informações, que oferece pistas para a pesquisa aprofundada no tema da Saúde Pública, em perspectiva histórica. Demonstra-se, também, o esforço de apresentar o ambiente labiríntico típico dos arquivos e conceitos elementares da área.

Do ponto de vista da difusão, espera-se que ela seja a matriz da qual emanará vários outros produtos a serem oferecidos a pesquisadores de áreas diversas, professores de vários níveis, profissionais dos arquivos e público mais amplo.


Marcelo Antonio Chaves - curador