Histórico dos Diários Associados
Em 1924, o empresário Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, o “Chatô”, adquiriu seu primeiro veículo impresso: O Jornal, do Rio de Janeiro. Ali começava a rede nacional dos Diários Associados, um grupo de órgãos de comunicação de alcance e importância inéditos no Brasil daquela época.
O grupo logo chegou a São Paulo: em 2 de junho de 1925, Chateaubriand assumiu o controle de seu primeiro jornal paulista, O Diário da Noite. Quatro anos depois, o empresário fundou o Diário de São Paulo.
Em 1928, surgia a revista O Cruzeiro, que se destacou pela utilização intensiva de fotografias e apresentação gráfica inovadora. Já em seu primeiro número, vendeu 50 mil exemplares, esgotando a edição. No ano seguinte, Assis Chateaubriand adquiriu O Diário de Notícias gaúcho.
A década de 30 representou um período de rápida expansão dos Diários. É deste período a fundação da Agência Meridional de Notícias (1931), uma das primeiras na área de radiodifusão; a aquisição da tradicional revista feminina A Cigarra (1934); e a fundação da Rádio Tupi AM (1935), que marcou época no cenário musical brasileiro. Os anos 40 foram marcados pela aquisição e/ou fundação de outras estações de rádio no país, na Bahia, em Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Amazonas, Ceará, Rio Grande do Norte, Rondônia e Paraíba.
Em 1950, Assis Chateaubriand lançou-se numa audaciosa aventura: a fundação da primeira emissora de TV da América Latina, a TV Tupi. Além de jornais e emissoras de rádio, o grupo possuía agora estações televisivas. Em 1955, era fundada a TV Itacolomi, em Minas Gerais; em 59, a TV Piratini, no Rio Grande do Sul; e em 1960, a TV Cultura de São Paulo. Em 1957, os Diários Associados também assumiram o controle do tradicional Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro. O jornal, fundado em 1827, é o mais antigo veículo impresso de publicação ininterrupta ainda circulando no Brasil. (Os Diários Associados também refundaram, em 1960, o histórico Correio Braziliense, publicado pela primeira vez de 1808 a 1822).
CIDADE CONTINUARÁ O DEBATE - Na foto, vemos funcionários da redação dos Diários Associados, quando assistiam o programa da Televisão Tupi, Canal 4, que discutiam sobre trânsito o Coronel Francisco Américo Fontenele, diretor do Departamento Estadual de Trânsito e a deputada estadual Maria Conceição da Costa Neves. O debate realizou-se na noite de ontem.
DN 2a. Ed. 9/3/1967 - cv.
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O grupo chegou a reunir 90 empresas em diversas regiões do Brasil, entre jornais, rádios e até laboratórios farmacêuticos. Mas os Diários cresciam sobre uma estrutura caótica, que acumulava dívidas. A situação agravou-se em 1959, quando Assis Chateaubriand criou o Condomínio Acionário, formado por 22 condôminos, responsáveis cada um por uma parte do seu império. Estas pessoas teriam como tarefa garantir a perenidade de todos os veículos de comunicação dos Diários Associados – mas sem que fossem donos do conglomerado. A iniciativa criou uma infinidade de problemas jurídicos e organizacionais ao grupo, e acelerou o processo de decadência da empresa.
No final dos anos 70, a crise acentuou-se, provocando o fechamento do Diário de São Paulo (1979) e Diário da Noite (1980). No mesmo ano, foi fechada a TV Tupi, que interrompeu sua programação e fechou as portas, deixando um grande passivo trabalhista.
Os Diários Associados ainda hoje são um grande conglomerado de mídia. Mas ficaram para trás os tempos em que eram o maior do país.
INAUGURADA A COOPERATIVA DE CONSUMO TUPI - Realizou-se, ontem, às 17 horas, na Rua da Abolição, 201, a solenidade de inauguração da Cooperativa de Consumo Tupi (...). Compareceram à cerimônia o senador Assis Chateaubriand, os srs. Edmundo Monteiro, Armando de Oliveira, Napoleão de Carvalho e Ruy Aranha, diretores dos "Associados" (...).
DSP, 23/10/955 WSS.
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Para entender a importância do acervo dos dois jornais paulistanos dos Diários Associados, é preciso atentar para o ineditismo da formação de uma rede nacional de comunicações no Brasil, em plena década de 1920. A trajetória dos jornais e do seu fundador, Assis Chateaubriand, coincidiu com um processo de mudança e rearranjo dos setores dominantes da burguesia brasileira. Foi nesse contexto que o dono dos Diários Associados inaugurou uma nova forma de fazer jornalismo
Da lista de políticos que influenciou, usando como trunfo os seus jornais, constam três presidentes: Getúlio Vargas, Eurico Dutra e Juscelino Kubitschek. Essas relações nem sempre eram tranquilas; e não raro, numa tentativa de se equilibrar em vários esquemas de poder, um jornal dos Diários Associados defendia uma posição oposta à de outro da mesma rede.
Por isso tudo – e também pela presença de jornalistas notáveis em seus veículos, como Samuel Wainer, David Nasser, Jean Manzon, Carlos Castelo Branco, Ziraldo, Millor e Nelson Rodrigues, entre muitos outros – o acervo do arquivo dos Diários Associados oferece uma amostra rica e diversificada da vida brasileira, numa época de grandes mudanças no país.
Os Diários Paulistanos
25 ANOS DE VIDA DO "DIÁRIO DA NOITE". O prédio que se erguia à entrada do Viaduto do Chá, onde tiveram sua sede os "Diários Associados". Nesse local, está hoje o Edifício Matarazzo.
DN -1A-27/1/950 -PT.
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Em 2 de junho de 1925, Assis Chateaubriand assumiu o controle de seu primeiro jornal paulista, O Diário da Noite. Em 1929, fundou o Diário de São Paulo.
Ao longo de suas seis décadas de existência, os dois jornais paulistanos das Associadas assumiram um perfil diferente entre si. O Diário de São Paulo, veículo um pouco mais “sério”, abordava principalmente a área de Cidades, ou Geral, como era chamada na época. O DSP se propunha a competir com o prestigioso O Estado de São Paulo. Já o Diário da Noite adotava uma linha mais popular, calcada principalmente no noticiário policial, de cunho sensacionalista.
Foto tirada meses após a fundação do jornal, em sua primeira redação, na praça Ramos de Azevedo, vendo-se, da esquerda para a direita: Antonio Monteiro, Teofilo de Almeida Sá, Bezerra Dantas, Cesar Ladeira, Livio B. Xavier, Heitor Gonçalves, Sérgio Linn, Ayres Martins Torres, Ben-Hur de Escobar Ferraz, Oswaldo Chateaubriand, Dias Meneses, Carlos Laino Júnior, Domingos De Rogatis, Clyntho de Castro, Raymundo Menezes e A. Xavier. (Nota: Alguns dos personagens desta foto podem não estar identificados corretamente, entre eles o irmão de Assis Chateaubriand, Oswaldo).
DSP. - 18/2/79 - naf.
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Apesar de suas diferenças, os Diários empregavam o mesmo corpo de repórteres; muitas matérias saíam nos dois jornais, produzidas pelos mesmos jornalistas, mas editadas de forma diversa. Os jornais também compartilhavam as mesmas instalações e o mesmo arquivo, que hoje está sob a guarda do Apesp.
No final da década de 1970 a crise que afetava o grupo Diários Associados agravou-se, principalmente entre as empresas paulistas. Em 14/7/1979, o Diário de São Paulo encerrou suas atividades; logo depois, em 1980, o grupo Diários Associados de São Paulo (formado então pela TV Tupi, canal 4, Rádios Tupi, Difusora FM e Diário da Noite) pediu concordata preventiva por dois anos. Em 7 de julho de 1988, a justiça paulista deferiu o pedido de concordata da S/A Diário da Noite de São Paulo, determinando a suspensão das ações e execuções contra o grupo, e dando-lhe um prazo para pagar aos credores em duas prestações anuais. Este acordo nunca foi cumprido, o que levou à falência das empresas.
Referências:
Site dos Diários Associados, www.diariosassociados.com.br, consultado em 27/04/2016.
MORAIS, Fernando. Chatô, o Rei do Brasil. Companhia das Letras. São Paulo, 1994.
CONCORDATA É DEFERIDA, Folha de São Paulo, São Paulo, 10/07/1980, página 27.