A experiência da imigração no Brasil teve resultados em diversos âmbitos da vida social, seja na economia, na política ou na cultura. Do trabalho manual ao intelectual, no campo ou na cidade, todos que aportaram a esta terra deixaram suas marcas, buscando com isso estabelecer formas de convívio na diáspora. Centrada na produção de impressos por imigrantes que escolheram São Paulo como nova morada, essa página apresenta grande quantidade de títulos de “jornais imigrantes”, dimensionando, assim, a diversidade e complexidade da experiência da imigração vivida no estado, tanto pelas inúmeras nacionalidades que compunham o contingente imigratório – que abarcam desde italianos, alemães, espanhóis, húngaros até árabes – como pelas várias formas de inserção dos imigrantes na sociedade de então – como colonos, trabalhadores fabris e artesanais urbanos ou comerciantes. Na imprensa mesclam-se as formas de inserção – ou reclusão – e os discursos elaborados por esses imigrantes sobre suas novas realidades... longe da terra natal.

Consideramos como “imprensa imigrante” aquela produzida por um grupo etnicamente diferenciado – oriundo de um processo de imigração –, dirigida para o próprio grupo, em geral (mas não obrigatoriamente) na língua pátria. A imprensa imigrante está longe de ser uma curiosidade datada; sua relevância está expressa em impressionantes números: em 1893, o Fanfulla (jornal da colônia italiana que circula até hoje em São Paulo) teve uma tiragem de 15 mil exemplares contra os 20 mil do jornal O Estado de São Paulo. Em 1914, circulavam, entre Rio de Janeiro e São Paulo, 4 títulos em língua árabe. Os números apontam para uma rica sociabilidade em torno desses jornais, o que pode ser constatada nos diversos Auto-crimes abertos por conta de denúncias de difamação e injúria, o que também ocorria em jornais imigrantes – e que, por vezes, obrigava a tradução de trechos dos jornais para apreciação de delegados e juízes. As vivências desses imigrantes foram tomando forma, criando suas próprias e características ligações dentro de seus grupos nacionais, e também com os demais imigrantes e brasileiros.

A imagem de construção de uma identidade de grupo, através de traços que recriam a terra natal baseados na nostalgia e na afirmação de elementos culturais, perpassou a maioria dos estudos sobre a imprensa imigrante. Apontamos, no entanto, que em muitos momentos podemos vislumbrar que essa imprensa teve justamente um significado de intervenção desses imigrantes nos seus locais de convívio: os jornais da colônia italiana e espanhola tiveram papel fundamental na construção de uma posição contra-hegemônica à grande imprensa nacional quando das greves e manifestações do movimento operário do começo do século XX, assim como os jornais húngaros serviram como forma de comunicação e troca de informações cifradas durante a revolução de 1924. Uma visão singular, um ângulo diferenciado: a imprensa imigrante permite estudar São Paulo por outros vetores, e não apenas as colônias produtoras desses jornais.

Na página Jornais e Revistas (seleção de documentos) do site do Arquivo Público são apresentados títulos de três acervos: do Arquivo Público do Estado de São Paulo (APESP), do Instituto Histórico Geográfico de São Paulo (IHGSP) – recolhido ao Arquivo em março de 2008 – e do Instituto Italiano de Cultura de São Paulo (IICSP).

Com o cruzamento de fontes, podemos estudar os imigrantes em suas vivências concretas, situados no tempo e no espaço, articulados e interferindo em sua realidade.