----------------------------------------
----------------------------------------
----------------------------------------
----------------------------------------
----------------------------------------
----------------------------------------
----------------------------------------
----------------------------------------
----------------------------------------


Periódicos


Construir uma crônica sobre a vida paulista foi um dos atributos assumidos pelas revistas de variedades, um tipo diferenciado e inovador de publicação que nasceu junto com o século XX e ganhou impressionantes contornos – e números – nas décadas de 1910 e 1920. Rompendo com um conceito de revista formulado no século XIX, em que predominavam as revistas literárias, com escrita empolada e pouquíssimas ilustrações, as revistas de variedades colorem o dia-a-dia dos leitores: encontramos muitas ilustrações, caricaturas e fotografias, em edições com capas muito coloridas, além de uma preocupação com a estética de apresentação do conteúdo, ou seja, as páginas eram desenhadas para facilitar a leitura e não causar excesso de informação. Um exemplo dessa política é um tipo de reportagem muito recorrente nessas revistas: a narração de um determinado acontecimento apenas por fotografias e pequenas legendas, sem qualquer outro texto mais extenso como complemento. Essas revistas se propunham a um passeio pelo cotidiano paulista de maneira leve, sutil, sem profundidade nos assuntos tratados. Ao mesmo tempo, apresentavam muitas dimensões da vida dos habitantes da cidade, seja através dos seus artigos e reportagens, seja pelos anúncios – de peculiar quantidade – em suas páginas.

Na edição de maio de 1914, a revista Vida Moderna apresenta uma série de flagrantes de eventos sociais ocorridos na cidade de São Paulo, desde a festa de aniversário da Light and Power e as festas do Clube Espéria e Paulistano, até os jogos de futebol no Hipódromo da Mooca. Podemos apreciar os trajes de ilustres mulheres paulistas, como a Condessa Álvares Penteado, a caminho da Missa de Domingo, na revista A Lua publicada em março de 1910. A cobertura da inauguração do Café União, localizado na Rua São Bento, com amplo salão, balcão e mesas de bilhar, ganhou destaque na revista Correio da Semana, lançada em abril de 1914. Nas fotos, podemos verificar homens elegantemente vestidos, em sua totalidade brancos. Na mesma edição, há uma reportagem sobre o desastre no “Tramway da Cantareira”, em que o tombamento dos carros ferroviários causou algumas mortes. A narrativa sobre o acidente é bem diferente dos jornais, focando em lamentar a morte das “desditosas senhoras” que se encontravam na composição, amenizando mesmo um assunto denso como esse.

Os anúncios constituem um capítulo a parte na história do periodismo paulista: todos os títulos apresentam elevado número de anúncios que refletem maneiras de consumir e se divertir pela cidade. Diversas formas de entretenimento são propagandeadas, tais como hotéis, cafés, clubes privativos, além de melhorias para o lar e produtos para consumo, como a cerveja. E uma nova forma de passear pela cidade é anunciada com entusiasmo, o automóvel particular.

Fica bem clara a cidade retratada pelas revistas de variedades e a quem estas se destinam: a elite estava ali para se enxergar, o que é evidenciado pelas temáticas e lugares explorados por esses periódicos e também pelo seu alto custo de produção, e, consequentemente, de venda. Para esse tipo de público havia uma defesa específica a ser feita sobre o espaço da cidade, que foi assumida por muitas dessas publicações: o compromisso com a modernização de São Paulo. Aí está o fio condutor das revistas de variedades, que apresentam uma vida agitada, com muitas opções de lazer e consumo, uma sociedade em transformação — para melhor —, rumo a um progresso colorido, em uma cidade de uma classe só.

As revistas aqui disponibilizadas também podem ser acessadas em
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/acervo/repositorio_digital/jornais_revistas

voltar     imprimir