Os debates sobre a formação do conhecimento arquivístico e sua conformação em campo de conhecimento ou disciplina são tão permanentes quanto inconclusivos. E não poderia ser diferente, já que envolvem fundas questões epistemológicas. Os editores e promotores deste periódico do Arquivo Público do Estado de São Paulo, de alguma forma, se inserem nesse processo refletindo concepções com as marcas sensíveis de um lugar de fala que não se situa no ambiente acadêmico, mas em instituição arquivística inserida no Poder Executivo, a partir da qual, ao seu modo, almeja dar visibilidade aos arquivos e contribuir na construção da área.

Desta forma, sob este aspecto, e coerentes com sua opção editorial, os editores da revista convidam os interessados no debate epistemológico a problematizarem sobre assuntos distintos, porém, correlatos e indissociáveis:

1) O complexo processo de produção de conhecimentos no âmbito da arquivologia e como estes se expressam nas multifacetadas práticas exercidas nas instituições e serviços arquivísticos.

2) Em decorrência, como isso se reflete na formação dos profissionais que atuam nos arquivos, na composição dos currículos dos cursos de graduação e pós-graduação e como articulá-los com a formação técnica em nível médio.

Para nós, nos instiga saber de que forma a produção teórica é assimilada ou apropriada nas mais diversas tipologias de instituições e serviços arquivísticos. Da mesma forma, no fazer técnico do cotidiano arquivístico há tensões criativas para produção de novos conhecimentos que, em sentido inverso, são incorporados em estudos empíricos acadêmicos geradores de mais conhecimentos.

Essa abordagem se insere no debate sobre “geografia da produção do conhecimento arquivístico” no Brasil. Seriam as universidades detentoras únicas dessa produção de conhecimentos? O que dizem os pensadores da arquivologia brasileira a esse respeito? O que é e como pode ocorrer a gestão do conhecimento corporativo? Qual o papel do Conselho Nacional dos Arquivos (Conarq), das associações de classe e das instituições arquivísticas na produção e disseminação do conhecimento arquivístico?

Para além desses aspectos, vale reanimar os debates sobre a trajetória da arquivologia e o seu convívio no campo das ciências da informação, ou como “ciência do documento” e suas interfaces com a diplomática; sobre as razões que dão sustentação à cisão dos arquivos entre gestão e preservação; sobre os fundamentos que orientam a arquivística; sobre a delimitação do espaço entre a arquivologia e outras áreas mais próximas, como as ciências da informação, administração, diplomática, a história etc.

Pois bem, esse rico fluxo de interações dialéticas está intimamente vinculado à formação dos múltiplos saberes dos profissionais dos arquivos. Não bastasse a validade e atualidade de muitas das críticas lançadas por Marilena Leite Paes há quarenta anos (!), e bem comentadas por Brenda Rocco (edição nº 10 da Revista do Arquivo), torna-se incontornável e inadiável se repensar a formação dos profissionais dos arquivos tendo em vista a emergência da tecnologia digital já amplamente aplicada aos arquivos em todas as suas fases de gestão e preservação dos documentos; a desregulamentação de várias profissões no âmbito dos questionamentos aos direitos trabalhistas, bem como a forte tendência de maior precarização das relações de trabalho, baseada na adoção inaudita dos aplicativos de conformação e gerenciamento de relações de trabalho no Brasil e no mundo. De que forma tudo isto impacta os arquivos nos nossos dias?

Assim, a edição nº 12 da Revista do Arquivo estimula a produção de artigos para sua seção dossiê temático, com finalidade de divulgação de pesquisas e reflexões no âmbito do multifacetado universo ideológico daqueles que pensam a arquivologia, propondo esse recorte mais vinculado à relação dialética entre teoria e prática na esfera arquivística e à formação dos profissionais dos arquivos.

Os trabalhos devem ser enviados até dia 07 de dezembro de 2020 para o e-mail revistadoarquivo@arquivoestado.sp.gov.br, observando-se as normas estabelecidas para esta publicação disponibilizadas no link:

http://www.arquivoestado.sp.gov.br/revista_do_arquivo/normas_para_publicacao.php

O tema do dossiê da edição nº 13, para outubro de 2021, tratará do fenômeno da avaliação de massa documental e também da digitalização de documentos de arquivo.