As negociações e o desfecho da Revolta
Na manhã seguinte ao início da Revolta, José Carlos Carvalho, oficial da marinha e deputado federal pelo Rio Grande do Sul, foi enviadopara tentar uma negociação com os marinheiros revoltosos. Voltou com uma carta para o presidente Hermes da Fonseca, a qual continha as seguintes reivindicações:
Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá; e até então não nos chegou; rompemos o negro véu, que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado povo.
Achando-se todos os navios em nosso poder, tendo a seu bordo prisioneiros todos os oficiais, os quais, tem sido os causadores da Marinha Brasileira não ser grandiosa, porque durante vinte anos de República ainda não foi bastante para tratar-nos como cidadãos fardados em defesa da Pátria, mandamos esta honrada mensagem para que V. Excia. Faça aos Marinheiros Brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da República nos facilita, acabando com a desordem e nos dando outros gozos que venham engrandecer a Marinha Brasileira; bem assim como: retirar os oficiais incompetentes e indignos de servir a Nação Brasileira. Reformar o Código Imoral e Vergonhoso que nos rege, a fim de que desapareça a chibata, o bolo, e outros castigos semelhantes; aumentar o nosso soldo pelos últimos planos do ilustre Senador José Carlos de Carvalho, educar os marinheiros que não tem competência para vestir a orgulhosa farda, mandar pôr em vigor a tabela de serviço diário, que a acompanha.
Tem V. Excia. o prazo de 12 horas, para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a Pátria aniquilada. Bordo do Encouraçado “São Paulo”, 22 de novembro de 1910. Nota: Não pode ser interrompida a ida e volta do mensageiro – Marinheiro.1
Assim, na carta enviada ao presidente, ficava claro que os marinheiros lutavam pelo cumprimento da Constituição Republicana, o direito à cidadania. Para atender a todas as mudanças reivindicadas, o governo necessitaria de tempo e investimento. Como a situação era crítica, resolveram, então, levar ao Congresso o projeto de Anistia.
No dia 24 de novembro, após a discussão no Senado, foi aprovada a Anistia para os marinheiros envolvidos. Dessa forma, no dia 27 de novembro, a marujada, a mando de João Cândido, entregava os navios amotinados para o comando da Marinha.
A repercussão negativa por parte da imprensa, devido à concessão do “perdão” aos marujos, criou uma situação desfavorável ao governo. Assim, no dia seguinte, Hermes da Fonseca assinava o Decreto nº 8.400, que autorizava a exclusão de Marinheiros, cuja permanência no serviço fosse inconveniente à disciplina.
Alguns estudos sobre a Revolta, e até mesmo João Cândido, apontam que a rebelião do Batalhão Naval foi fomentada pela própria Marinha. A intenção era criar um cenário que legitimasse a prisão e a perseguição dos envolvidos na revolta de novembro.
“[...] o governo, para desafronta, preparou uma revolução interna para invadir os navios e assassinar os marinheiros que havia tomado parte da revolução. O governo fomentara a revolta na Ilha das Cobras, levantando o Regimento Naval para daí irem para o mar e atacarem os navios cuja tripulação estavam... já estava anistiada, para sacrificar os marinheiros [...]”2
Ao final da Revolta da Chibata, foram contabilizados 9 mortos (5 oficias, 2 marujos e 2 crianças atingidas pelo tiro de canhão) e vários ficaram feridos.
1 MOREL, Edmar. A Revolta da Chibata. 4 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1986, p. 86-87.
2 ARIAS NETO, José Miguel. João Cândido 1910 – 1968: arqueologia de um depoimento sobre a Revolta dos marinheiros. p. 20. Disponível em: <http://www2.uel.br/cch/cdph/arqtxt/JoaoCandido1910-1968.pdf>. Acesso em: 14 out. 2010.