Exposição Virtual: A Revolta da Chibata

Ilha das Cobras

Terminada a Revolta, os marinheiros voltaram aos seus postos. No entanto, o clima de desconfiança na Marinha era grande, pois se temia por outra sublevação.

Entre os dias 2 e 4 de dezembro, foram presos 22 marujos acusados de conspiração. No dia 9 do mesmo mês, o Encouraçado Rio Grande do Sul, atracado no Batalhão Naval da Ilha das Cobras, iniciou a revolta ao atirar contra os oficiais da Marinha. Nesse episódio, os revoltosos não tiveram apoio de João Cândido e dos outros envolvidos na Revolta do dia 22 de novembro.

Como o Encouraçado Rio Grande do Sul não obteve apoio dos outros navios, logo foi vencido pelos oficiais. Em seguida, eclodia a revolta dentro do Batalhão Naval. A Marinha, juntamente com o apoio do Exército, acabou rapidamente com a movimentação bombardeando o local. Declarado estado de sítio pelo presidente Hermes da Fonseca, a Marinha pôde agir na perseguição a qualquer um que representasse algum tipo de perigo ao governo.

Mesmo sem nenhum indício de efetiva participação, João Cândido e os seus companheiros da Revolta da Chibata também foram acusados de participar dessa rebelião. No dia 24 de dezembro, João Cândido, os outros revoltosos de novembro e parte dos marinheiros envolvidos na revolta do Batalhão foram levados ao presídio da Ilha das Cobras. Chegando lá, o que os aguardava era a cela solitária, “encravada na rocha, úmida, de aspecto lúgubre e apertada”1.

A falta de espaço e de ar somada ao processo de “higienização” pelo qual a cela havia passado, que deixou nela vestígios de cal, causou a morte de quase todos os prisioneiros. Dos 31 encarcerados, somente João Cândido e João Avelino Lira conseguiram sobreviver.

[...] Na madrugada do dia 25, ouviram-se gritos de desespero dos encarcerados, debaixo de um calor sufocante [...] No dia 26, abriram a porta e perguntaram se João Cândido vivia [...] O marujo gaúcho, com o rosto colado numa fresta da porta, ainda respirava, e vários cadáveres se amontoavam lá dentro [...] Somente no dia 27, quando a notícia de violência começou a vazar, o capitão Marques da Rocha mandou retirar os detidos... saíram vivos, inanimados e traumatizados...2

Na mesma véspera de Natal, outros 105 ex-marujos foram embarcados no navio mercante Satélite, cujo destino era a Amazônia. A eles se juntaram 292 vagabundos e 44 mulheres, segundo o relatório da Marinha. Os 411 presos seriam usados como mão de obra na construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré e também em outros serviços. No entanto, até a chegada ao destino final, 14 ex-marujos foram fuzilados e seus corpos jogados no mar. Ao restante, sobrou o trabalho forçado e a prostituição.


1 FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL et al. João Cândido: a luta pelos direitos humanos. [S.l.]: Projeto Memória, 2008. p. 71.

2 FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL et al. João Cândido: a luta pelos direitos humanos. [S.l.]: Projeto Memória, 2008. p. 72.