Exposição Virtual: A Revolta da Chibata

E os anos se passaram...

A Revolta da Chibata foi um acontecimento que marcou a história brasileira. Esse episódio inspirou várias gerações posteriores a lutarem e se organizarem em movimentos sociais pela busca da cidadania. Influenciou a formação de movimentos de luta pela igualdade racial e movimentos engajados na luta por direitos humanos.

A Revolta dos Marinheiros também teve sua influência no campo cultural. No ano de 1948, Jota Rodrigues, pernambucano, poeta popular de literatura de Cordel, escreveu a poesia A Revolta da Chibata:

Grande Deus, mestre e juiz
Justiça que nunca falta
Ilumina este teu servo
A quem deste cultura nata
Com inspiração e saber
Pra que eu possa descrever
A Revolta da Chibata

No Brasil de antigamente
Vivia-se a lei do cão
O negro pobre não tinha
Direitos de cidadão
Privilégios não teria
Conceito ou cidadania
Liberdade ou posição1

No campo musical, a composição Mestre Sala dos Mares, de João Bosco e Aldir Blanc, imortalizou a figura de João Cândido e a Revolta da Chibata. Composta na década de 1970, em pleno período militar, a música sofreu algumas modificações devido à censura do governo Federal, que alegava que a letra exaltava um negro.

Na versão original, os títulos escolhidos pelos compositores foram Almirante Negro e Navegante Negro, porém vetados. Alguns termos também tiveram de ser trocados. No caso da palavra “marinheiro”, a troca foi feita por “feiticeiro”, “almirante” por “navegante” e “navegar” por “acenar”; já o trecho “com seu bloco de fragatas” foi substituído por “na alegria das regatas”.

No carnaval, a Revolta também foi lembrada. A escola de samba União da Ilha, do Rio de Janeiro, homenageou João Cândido, no ano de 1958, com o samba-enredo Um Herói, Um Enredo, uma Canção. Em São Paulo, no carnaval de 2003, a escola de samba Camisa Verde e Branco lembrou o marinheiro em seu samba-enredo A Revolta da Chibata. Luta, Coragem e Bravura! João Cândido, um sonho de Liberdade!

Enfim, outras homenagens também foram realizadas ao marinheiro: a produção de curtas-metragens, a inauguração de monumentos, a denominação de rua, escola e navio com o nome de João Cândido, até o reconhecimento dele como cidadão carioca. A maioria dessas homenagens foi realizada após a sua morte.

O projeto de anistia de João Cândido e dos outros envolvidos começou a tramitar no Congresso Nacional em 2002. Os familiares dos ex-marinheiros reivindicavam a pensão correspondente à patente que esses marinheiros poderiam ter alcançado em vida, bem como o reconhecimento do Governo Federal à anistia dos marinheiros que participaram da Revolta em 1910. Somente no ano de 2008 foi sancionada a Lei de Anistia a João Cândido e aos demais participantes, porém a anistia póstuma não incluía o pagamento de pensão ou ressarcimento à família dos marinheiros pelos anos em que foram perseguidos.

Na historiografia, foram escritas algumas versões sobre a Revolta da Chibata. No material produzido sobre ela encontramos a versão oficial, escrita e divulgada pela Marinha, e outras versões escritas por pesquisadores e acadêmicos – jornalistas e historiadores. Com a liberação pela Marinha brasileira da documentação sobre João Cândido, as pesquisas sobre o assunto e a produção de material acerca do episódio tendem a aumentar. João Cândido diz em depoimento:

“Quero dizer que daqui para o ano 2000 e para adiante ainda vai ter João Cândido.”2


1 Poema integral disponível em: <http://www.jangadabrasil.com.br/revista/agosto93/es930825.asp>. Acesso em: 18 out. 2010.

2 Depoimento de João Cândido ao Museu da Imagem e do Som – MIS, em 1968. Retirado de FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL et al. João Cândido: a luta pelos direitos humanos. [S.l.]: Projeto Memória, 2008.