Exposição Virtual: A Revolta da Chibata

A imprensa e a Revolta

A revolta dos marinheiros de 1910 teve imensa repercussão, na época, nos meios de comunicação como jornais nacionais e internacionais. A revolta virou até tema de música para Eduardo Neves, que compôs Os Reclamantes1.

Com relação ao posicionamento da imprensa, ela se dividiu em duas vertentes: a dos que eram favoráveis à sublevação dos marinheiros e a dos que eram contrários a ela. Para boa parte da imprensa, a Revolta foi considerada um episódio que deveria ser apagado da história do Brasil, pois desafiava a ordem e a disciplina.

As edições dos dias 25 e 26 de novembro de 1910 do jornal A Platéa trouxeram aos seus leitores informações sobre a repercussão da revolta dos marinheiros transmitida por meio de alguns jornais do Rio de Janeiro:

“Vários (sic) gravuras sobre os tristes acontecimentos do dia...” Gazeta de Notícias

“Charge” na primeira pagina. Desenho em homenagem ao bravo capitão de mar e guerra Baptista das Neves, assassinado pelos marinheiros do “Minas Geraes”. Jornal do Brasil

“Combate, em editorial, a iniciativa do senado sobre a amnistia aos marinheiros. Salienta que o verdadeiro poder está a bordo dos navios. As secções diarias e telegramas”. Imprensa

A revista Illustração Brazileira também noticiou a Revolta de maneira negativa. A revista não questionava as reivindicações dos marujos, mas os resultados que a Revolta trazia para o país.

Pouco importa, que as causas, indicadas agora, fossem justas, fossem reclamações contra castigos barbaros e illegaes, fosse o excesso de trabalho ou a má qualidade da alimentação... Fosse qual fosse a justiça de suas reclamações elles não deviam esquecer que, humilhando as mais altas autoridades do paiz, forçando-as a capitular diante da força bruta e terrível, collocavam o nome do Brazil, do paiz inteiro á mercê de commentarios desagradáveis... É isso que os espíritos mais ciosos pelo brio nacional não podem perdoar aos marinheiros.2

Já em 1912, ano do julgamento de João Cândido e dos outros marujos acusados de envolvimento na rebelião do Batalhão Naval, ocorrida em dezembro de 1911, o jornal A Gazeta noticiava positivamente o desfecho do julgamento.

[...] o conselho de guerra a que respondiam o marinheiro João Candido e, outros envolvidos na revolta naval de 1910, terminou afinal os seus trabalhos, absolvendo todos os acusados. Destes se destacou sempre o famoso “almirante”... que durante dois longos annos soffreu innominaveis, ora nos calabouços da ilha das Cobras, ora nos pateos sinistros do Hospicio dos Alienados, de nada lhe valendo appellos á justiça, nem rogos á piedade. Agora, porém, com a absolvição, parece que cessará a odysséa de João Candido.3

Os trechos apresentados acima são apenas uma mostra da repercussão da revolta na mídia. João Cândido era exaltado por uns e desprestigiado por outros. Mas o que não se pode negar é que o nome do marinheiro ficou gravado na História do Brasil e que ele se tornou um ícone para vários movimentos de luta pelos direitos à cidadania.


1 Cf. a letra da música em: <http://blog.planalto.gov.br/joao-candido-almirante-negro/>. Acesso em: 14 out. 2010.

2 REVISTA ILLUSTRAÇÃO BRAZILEIRA. Rio de Janeiro, n. 37, 1º dez. 1910. p. 176. APESP.

3 A REVOLTA dos Dreadnoughts. João Candido e seus companheiros foram absolvidos. A Gazeta. São Paulo, n. 2024, 30 nov. 1912. p. 8. APESP.